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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Gabriel García Marquez e o conto A Luz é Como a Água

Estou rendendo minhas homenagens ao escritor Gabriel García Marquez e tomo a liberdade de ilustrar meus sentimentos com um conto seu de que gosto muito: A Luz é Como a Água. E espero que todos gostem...



No Natal os meninos tornaram a pedir um barco a remos.
- De acordo - disse o pai -,vamos comprá-lo quando voltarmos a Cartagena.
Totó, de nove anos, e Joel, de sete, estavam mais decididos do que seus pais achavam.
-Não - disseram em coro. - Precisamos de­le agora e aqui.
- Para começar - disse a mãe -, aqui não há outras águas navegáveis além da que sai do chuveiro.
Tanto ela como o marido tinham razão. Na casa de Cartagena de lndias havia um pátio com um atracadouro sobre a baía e um refúgio para dois iates grandes. Em Madri, porém, viviam aper­tados no quinto andar do número 47 do Paseo de la Castellana. Mas no final nem ele nem ela pu­deram dizer não, porque haviam prometido aos dois um barco a remos com sextante e bússola se ganhassem os louros do terceiro ano primário, e tinham ganhado. Assim sendo, o pai comprou tudo sem dizer nada à esposa, que era a mais renitente em pagar dívidas de jogo. Era um belo barco de alu­mínio com um fio dourado na linha de flutuação.
- O barco está na garagem - revelou o pai na hora do almoço. - O problema é que não tem jeito de trazê-lo pelo elevador ou pela escada, e na garagem não tem mais lugar.
No entanto, na tarde do sábado seguinte, os me­ninos convidaram seus colegas para carregar o bar­co pelas escadas, e conseguiram levá-lo até o quarto de empregada.
- Parabéns - disse o pai. - E agora?
- Agora, nada - disseram os meninos. - A única coisa que a gente queria era ter o barco no quarto, e pronto.
Na noite de quarta-feira, como em todas as quartas-feiras, os pais foram ao cinema. Os meninos, donos e senhores da casa, fecharam portas e janelas, e quebraram a lâmpada acesa de um lustre da sala. Um jorro de luz dourada e fresca feito água começou a sair da lâmpada quebrada, e deixaram correr até que o nível chegou a quatro palmos. En­tão desligaram a corrente, tiraram o barco, e nave­garam com prazer entre as ilhas da casa.
Esta aventura fabulosa foi o resultado de uma leviandade minha quando participava de um semi­nário sobre a poesia dos utensílios domésticos. To­tó me perguntou como era que a luz acendia só com a gente apertando um botão, e não tive coragem para pensar no assunto duas vezes.
- A luz é como a água - respondi. - A gen­te abre a torneira e sai.
E assim continuaram navegando nas noites de quarta-feira, aprendendo a mexer com o sextante e a bússola, até que os pais voltavam do cinema e os encontravam dormindo como anjos em terra firme. Meses depois, ansiosos por ir mais longe, pediram um equipamento de pesca submarina. Com tudo: máscaras, pés-de-pato, tanques e carabinas de ar comprimido.
- Já é ruim ter no quarto de empregada um barco a remos que não serve para nada - disse o pai.   - Mas pior ainda é querer ter além disso equi­pamento de mergulho.
- E se ganharmos a gardênia de ouro do primeiro semestre? - perguntou Joel.
- Não - disse a mãe, assustada. - Chega.
O pai reprovou sua intransigência.
- É que estes meninos não ganham nem um prego por cumprir seu dever - disse ela -, mas por um capricho são capazes de ganhar até a cadeira do professor.
No fim, os pais não disseram que sim ou que não. Mas Totó e Joel, que tinham sido os últimos nos dois anos anteriores, ganharam em julho as duas gardênias de ouro e o reconhecimento público do di­retor. Naquela mesma tarde, sem que tivessem tor­nado a pedir, encontraram no quarto os equipamen­tos em seu invólucro original. De maneira que, na quarta-feira seguinte, enquanto os país viam O Último Tango em Paris, encheram o apartamento até a altura de duas braças, mergulharam como tubarões mansos por baixo dos móveis e das camas, e resgataram do fundo da luz as coisas que durante anos tinham-se perdido na escuridão.
Na premiação final os irmãos foram aclamados como exemplo para a escola e ganharam diplomas de excelência. Desta vez não tiveram que pedir na­da, porque os pais perguntaram o que queriam. E eles foram tão razoáveis que só quiseram uma fes­ta em casa para os companheiros de classe.
O pai, a sós com a mulher, estava radiante.
- É uma prova de maturidade - disse.
- Deus te ouça - respondeu a mãe.
Na quarta-feira seguinte, enquanto os pais viam A Batalha de Argel, as pessoas que passaram pela Castellana viram uma cascata de luz que caía de um velho edifício escondido entre as árvores. Saía pelas varandas, derramava-se em torrentes pela fachada. e formou um leito pela grande avenida numa cor­renteza dourada que iluminou a cidade até o Gua­darrama.
Chamados com urgência, os bombeiros força­ram a porta do quinto andar, e encontraram a casa coberta de luz até o teto. O sofá e as poltronas for­radas de pele de leopardo flutuavam na sala a dife­rentes alturas, entre as garrafas do bar e o piano de cauda com seu xale de Manilha que agitava-se com movimentos de asa a meia água como uma arraia de ouro. Os utensílios domésticos, na plenitude de sua poesia, voavam com suas próprias asas pelo céu da cozinha. Os instrumentos da banda de guerra, que os meninos usavam para dançar, flutuavam a esmo entre os peixes coloridos liberados do aquário da mãe, que eram os únicos que flutuavam vivos e feli­zes no vasto lago iluminado. No banheiro flutuavam as escovas de dentes de todos, os preservativos do pai, os potes de cremes e a dentadura de reserva da mãe, e o televisor da alcova principal flutuava de la­do, ainda ligado no último episódio do filme da meia-noite proibido para menores.
No final do corredor, flutuando entre duas águas, Totó estava sentado na popa do bote, agar­rado aos remos e com a máscara no rosto, buscan­do o farol do porto até o momento em que houve ar nos tanques de oxigênio, e Joel flutuava na proa buscando ainda a estrela polar com o sextante, e flu­tuavam pela casa inteira seus 37 companheiros de classe, eternizados no instante de fazer xixi no vaso de gerânios, de cantar o hino da escola com a letra mudada por versos de deboche contra o diretor, de beber às escondidas um copo de brandy da garrafa do pai. Pois haviam aberto tantas luzes ao mesmo tempo que a casa tinha transbordado, e o quarto ano elementar inteiro da escota de São João Hospitalário tinha se afogado no quinto andar do número 47 do Paseo de la Castellana. Em Madri de Espanha, uma cidade remota de verões ardentes e ventos gelados, sem mar nem rio, e cujos aborígines de terra firme nunca foram mestres na ciência de navegar na luz.


Dezembro de 1978 (Gabriel García Marquez)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Receita de isca de bacalhau com azeitonas pretas

Faz um tempão que não posto uma receita e lá vai mais uma...

É fácil, barato e muito prático de fazer... Ingredientes: a) mais ou menos oitocentas gramas de isca de bacalhau. Com um detalhe: você precisa ter retirado todo o sal.  Trocar de água cerca de quatro ou mais vezes; b) um quilo de batata. Cozinhar primeiro a batata até ficar no ponto de descascá-la; c) você vai precisar de azeite para untar a forma (prefira o extra-virgem); d) azeitonas pretas - você não precisa de muitas, mas de uma dez ou quinze que dá certo!

Numa panela separada, pique três cabeças de alho, algumas rodelas de cebola branca e pouco tempero, pois o bacalhau sempre fica um pouquinho salgado mesmo retirando todo o sal. Deixe dourar o alho e a cebola e depois adicione a isca de bacalhau e tampe a panela deixando ferver por alguns minutos... Não precisa colocar água, pois ele cozinha na própria água. Depois que a batata tiver pronta, coloque uma certa quantidade (amassada) dela numa travessa... Adicione a isca de bacalhau e o restante da batata e decore a travessa com as azeitonas pretas e algumas rodelas de cebola e se preferir alguns pedaços de pimentão. Adicione mais um pouco de azeite pra não ficar seco e leve ao forno pra esquentar por uns doze ou quinze minutos... E pronto! Se preferir faça um suco de cajá ou tome uma taça de vinho branco que dá certo... (Rende umas quatro poções).



quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dica de site de filmes online

Aqui vai uma grande dica de um site que permite assistir vários filmes de graça pela internet. Trata-se da Toca dos Cinéfilos e é possível conferir filmes de todas as nacionalidades e diretores de películas de todos os bons gêneros de fitas... Não deixe passar a oportunidade de ver filmes com uma qualidade melhor de encenação e dramaturgia. Fica a dica e o link aqui.