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quinta-feira, 14 de julho de 2016
quarta-feira, 15 de junho de 2016
Que tempo é esse?
Nosso Tempo
Carlos Drummond de Andrade
I
Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.
Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.
Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.
II
Esse é tempo de divisas,
tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
obscenos gestos avulsos.
Mudou-se a rua da infância.
E o vestido vermelho
vermelho
cobre a nudez do amor,
ao relento, no vale.
Símbolos obscuros se multiplicam.
Guerra, verdade, flores?
Dos laboratórios platônicos mobilizados
vem um sopro que cresta as faces
e dissipa, na praia, as palavras.
A escuridão estende-se mas não elimina
o sucedâneo da estrela nas mãos.
Certas partes de nós como brilham! São unhas,
anéis, pérolas, cigarros, lanternas,
são partes mais íntimas,
e pulsação, o ofego,
e o ar da noite é o estritamente necessário
para continuar, e continuamos.
III
E continuamos. É tempo de muletas.
Tempo de mortos faladores
e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,
mas ainda é tempo de viver e contar.
Certas histórias não se perderam.
Conheço bem esta casa,
pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,
a sala grande conduz a quartos terríveis,
como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na mesa,
conduz à copa de frutas ácidas,
ao claro jardim central, à água
que goteja e segreda
o incesto, a bênção, a partida,
conduz às celas fechadas, que contêm:
papéis?
crimes?
moedas?
[...]
É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso
na esquina. Tempo de cinco sentidos
num só. O espião janta conosco.
É tempo de cortinas pardas,
de céu neutro, política
na maçã, no santo, no gozo,
amor e desamor, cólera
branda, gim com água tônica,
olhos pintados,
dentes de vidro,
grotesca língua torcida.
A isso chamamos: balanço.
No beco,
apenas um muro,
sobre ele a polícia.
No céu da propaganda
aves anunciam
a glória.
No quarto,
irrisão e três colarinhos sujos.
Carlos Drummond de Andrade
I
Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.
Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.
Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.
II
Esse é tempo de divisas,
tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
obscenos gestos avulsos.
Mudou-se a rua da infância.
E o vestido vermelho
vermelho
cobre a nudez do amor,
ao relento, no vale.
Símbolos obscuros se multiplicam.
Guerra, verdade, flores?
Dos laboratórios platônicos mobilizados
vem um sopro que cresta as faces
e dissipa, na praia, as palavras.
A escuridão estende-se mas não elimina
o sucedâneo da estrela nas mãos.
Certas partes de nós como brilham! São unhas,
anéis, pérolas, cigarros, lanternas,
são partes mais íntimas,
e pulsação, o ofego,
e o ar da noite é o estritamente necessário
para continuar, e continuamos.
III
E continuamos. É tempo de muletas.
Tempo de mortos faladores
e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,
mas ainda é tempo de viver e contar.
Certas histórias não se perderam.
Conheço bem esta casa,
pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,
a sala grande conduz a quartos terríveis,
como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na mesa,
conduz à copa de frutas ácidas,
ao claro jardim central, à água
que goteja e segreda
o incesto, a bênção, a partida,
conduz às celas fechadas, que contêm:
papéis?
crimes?
moedas?
[...]
É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso
na esquina. Tempo de cinco sentidos
num só. O espião janta conosco.
É tempo de cortinas pardas,
de céu neutro, política
na maçã, no santo, no gozo,
amor e desamor, cólera
branda, gim com água tônica,
olhos pintados,
dentes de vidro,
grotesca língua torcida.
A isso chamamos: balanço.
No beco,
apenas um muro,
sobre ele a polícia.
No céu da propaganda
aves anunciam
a glória.
No quarto,
irrisão e três colarinhos sujos.
terça-feira, 17 de maio de 2016
Wagner Moura e o golpe
WAGNER
,

"A extinção do Minc é só a primeira demonstração de obscurantismo e ignorância dada por esse Governo ilegítimo", disse o ator Wagner Moura em texto enviado aos jornais Zero Hora e Estado de S. Paulo, que só o primeiro decidiu publicar; "Começaram transformando a Secretaria de Direitos Humanos num puxadinho do Ministério da Justiça. Igualdade Racial e Secretaria da Mulher também: tudo será comandado pelo cara que no Governo Alckmin mandou descer a porrada nos estudantes que ocuparam as escolas e nos manifestantes de 2013", pontuou; "Trevas amigo… E o pior ainda está por vir"
17 DE MAIO DE 2016 ÀS 09:01
Escrevi essa resposta-texto para jornalistas do Estado e da Zero Hora que queriam minha opinião sobre a extinção do Minc. O Zero Hora vai dar. O Estado se recusou.
A extinção do Minc é só a primeira demonstração de obscurantismo e ignorância dada por esse Governo ilegítimo.
O pior ainda está por vir.
Vem aí a pacoteira de desmonte de leis trabalhistas, a começar pela mudança de nossa definição de trabalho escravo, para a alegria do sorridente pato da FIESP, que pagou a conta do golpe.
Começaram transformando a Secretaria de Direitos Humanos num puxadinho do Ministério da Justiça.
Igualdade Racial e Secretaria da Mulher também: tudo será comandado pelo cara que no Governo Alckmin mandou descer a porrada nos estudantes que ocuparam as escolas e nos manifestantes de 2013.
Sob sua gestão, a PM de São Paulo matou 61% a mais.
Sabe tudo de direitos humanos o ex-advogado de Eduardo Cunha, o senhor Alexandre de Moraes.
Mas claro, a faxina não estaria completa se não acabassem com o Ministério da Cultura, que segundo o genial entendimento dos golpistas, era um covil de artistas comunistas pagos pelo PT para dar opiniões políticas a seu favor (?!!!).
Conseguiram difundir essa imbecilidade e ainda a ideia de que as leis de incentivo tiravam dinheiro de hospitais e escolas e que os impostos de brasileiros honestos sustentavam artistas vagabundos.
Os pró-impeachment compraram rapidamente essa falácia conveniente e absurda sem ter a menor noção de como funcionam as leis (criadas no Governo Collor!) e da importância do Minc e do investimento em Cultura para o desenvolvimento de um país. É muito triste tudo.
Ontem vi um post em que Silas Malafaia comemorava a extinção “do antro de esquerdopatas”, referindo-se ao Minc. Uma negócio tão ignóbil que não dá pra sentir nada além de tristeza. Predominou a desinformação, a desonestidade e o obscurantismo.
Praticamente todos os filmes brasileiros produzidos de 93 para cá foram feitos graças à lei do Audiovisual. Como pensar que isso possa ter sido nocivo para o Brasil?!
Como pensar que o país estará melhor sem a complexidade de um Ministério que cuidava de gerir e difundir todas as manifestações culturais brasileiras aqui e no exterior?
Bradar contra o Minc e contra as leis (ao invés de contribuir com ideias para melhorá-las) é mais que ignorância, é má fé mesmo.
E agora que a ordem é cortar gastos, o presidente que veio livrar o Brasil da corrupção e seu ministério de homens brancos, com sete novos ministros investigados pela Lava Jato, começa seu reinado varrendo a Cultura da esplanada dos Ministérios… Faz sentido.
Os artistas foram mesmo das maiores forças de resistência ao golpe. Perdemos feio.
Acabo de ler que vão acabar também com a TV Brasil.
Ótimo. Pra que cultura?
Posso ouvir os festejos nos gabinetes da Câmara, nos apartamentos chiques dos batedores de panela, na Igreja de Malafaia e na redação da Veja:
“Acabamos com esse antro de artistazinhos comprados pelo PT! Estão pensando o que? Acabamos a mamata da esquerda caviar! Chega de frescura! Viva o Brasil!”
Trevas amigo… E o pior ainda está por vir.
terça-feira, 10 de maio de 2016
O supremo e o golpe
Senhoras e senhores ministros do STF, não se apequenem, por Diogo Costa
TER, 10/05/2016 - 08:46
Por Diogo Costa
O STF, O MÉRITO, OS RITOS E OS RITMOS DE UMA FARSA - É inimaginável que o Supremo Tribunal Federal compactue com essa que já é a maior farsa, a maior fraude da história do Brasil. Fraude e farsa que a imprensa internacional detectou há bastante tempo e que chama com todas as letras de golpe de Estado.
É inimaginável que lavem as mãos citando o "rito" da 'execução' ao invés de analisar se existe ou não um crime merecedor de tal punição.
Jesus Cristo foi executado. Tudo dentro dos ritos previstos no Império Romano na época.
Joaquim José da Silva Xavier, o nosso Tiradentes, foi executado e esquartejado, tudo dentro dos ritos previstos nas Ordenações Portuguesas da época.
Olga Benário, grávida de um brasileiro, foi mandada para a Alemanha Nazista, onde foi executada. Tudo dentro dos ritos previstos no ordenamento jurídico brasileiro - com a anuência vexaminosa do STF (vexame e infâmia reconhecidas pelo decano do Supremo, Celso de Mello).
Nas Ordálias Medievais as pessoas eram torturadas e mortas em processos secretos. Um exemplo era amarrar uma pessoa e prender uma pedra pesada em sua perna para depois atirá-la num rio qualquer. Se a pessoa morresse, era culpada. Se vivesse era inocente (e quem haveria de sobreviver?). Tudo dentro dos ritos previstos no Direito Canônico Inquisitorial.
Todas as execuções e torturas presentes nos regimes nazista, fascista ou estalinista foram "legais" e de acordo com os ritos propugnados por estes regimes.
O que se vê hoje em Pindorama é um Supremo Tribunal Federal omisso e conivente com um golpe de Estado.
As desculpas esfarrapadas repetem o mantra histórico dos canalhas: é tudo legal e tudo está sendo feito de acordo com os ritos!
Ora, em nenhum lugar civilizado do Planeta Terra se derruba um presidente da república com base em atos administrativos (seis decretos) ou com base em um suposto inadimplemento (equalização dos juros do Plano Safra).
O caso dos decretos é inacreditável. Há décadas estes decretos são feitos por todos os presidentes da república e nunca foram considerados irregulares - porque de fato não são. Neste momento se pesca seis decretos, entre milhares deles existentes, para desfechar um golpe contra a mandatária primeira da nação.
O suposto inadimplemento em questão, com o Plano Safra administrado pelo Banco do Brasil, é ainda mais escabroso pois foi o próprio TCU, em decisão de 2014, arrolou 17 pessoas como sendo culpadas pelas tais de "pedaladas". Entre as 17 pessoas não está e nunca esteve a presidenta Dilma pois ela não tem ato de ofício nenhum a respeito deste tema.
E o STF a tudo assiste, se preocupando única e exclusivamente com o "rito" do processo...
O Supremo Tribunal Federal tem a obrigação constitucional de analisar o mérito do processo de impedimento. Não pode essa Corte fazer cara de paisagem ou replicar o insulto de Pôncio Pilatos.
Não pode o mais alto tribunal deste país permitir um estupro constitucional, um autêntico atentado que se está fazendo contra a democracia e a soberania do voto popular.
O TCU sempre considerou lícitos os decretos presidenciais que por ora servem de muleta para o golpe de estado. Tanto isto é verdade que esse entendimento, vigente desde sempre, foi alterado apenas em 07 de outubro de 2015 (os seis decretos aludidos ocorreram antes dessa modificação de entendimento, entre julho e agosto de 2015).
No caso da "pedalada" do Plano Safra, Dilma não praticou nenhum ato de ofício e nem teria como fazê-lo!
O processo de impedimento é político-criminal. Não é uma sindicância administrativa.
Não se pode condenar alguém com base na inexistência de crime ou na existência de um suposto crime que quando foi feito não era considerado crime algum.
A Carta de 88 fala em atos presidenciais como motivação lícita para um processo de impedimento. Como se vai condenar alguém, no caso de Dilma e da questão da "pedalada", se nessa questão não há ato de ofício nenhum por ela praticado?
É inimaginável que o Supremo Tribunal Federal compactue com essa que já é a maior farsa, a maior fraude da história do Brasil.
É inimaginável que lavem as mãos citando o "rito" da 'execução' ao invés de analisar se existe ou não um crime merecedor de tal punição.
E mais ainda: mesmo que os atos administrativos analisados constituíssem algum tipo de infração, jamais se poderia conceber que os mesmos dessem causa a uma pena de máxima grandeza.
É proporcional punir uma infração de trânsito com a prisão perpétua? É proporcional punir um furto famélico com a pena de morte? É proporcional destruir mais de 54 milhões de votos com base em seis decretos e em um suposto inadimplemento com a equalização de juros do Plano Safra? Pois é justamente disso que se trata, da proporcionalidade da sanção em virtude do ato em tese praticado.
O STF não tem como fugir da análise do mérito desse rumoroso processo. A infâmia dessa fuga, se ocorrer, constituirá um atentatório crime contra a Constituição.
Não pode a Suprema Corte fazer de conta que não está vendo a deposição de uma presidenta, com base em atos administrativos, sem nada dizer a respeito de tamanho dano e de tamanha e irreparável ignomínia.
A presidência e vários juristas alegam a inexistência de crime e a existência de uma deposição em estilo parlamentarista, numa espécie de "voto de desconfiança".
O Brasil, salvo ledo engano, continua sendo um país eminentemente presidencialista. Se crime não há, jamais se pode cogitar da destituição do voto popular representado pela figura do presidente da república.
Quem deveria analisar o mérito disso, para dirimir as dúvidas, se não o próprio Supremo Tribunal Federal?
Senhoras e senhores ministros, não sejam cúmplices deste evidente golpe de Estado. Não se acanalhem.
É inimaginável que lavem as mãos citando o "rito" da 'execução' ao invés de analisar se existe ou não um crime merecedor de tal punição.
Jesus Cristo foi executado. Tudo dentro dos ritos previstos no Império Romano na época.
Joaquim José da Silva Xavier, o nosso Tiradentes, foi executado e esquartejado, tudo dentro dos ritos previstos nas Ordenações Portuguesas da época.
Olga Benário, grávida de um brasileiro, foi mandada para a Alemanha Nazista, onde foi executada. Tudo dentro dos ritos previstos no ordenamento jurídico brasileiro - com a anuência vexaminosa do STF (vexame e infâmia reconhecidas pelo decano do Supremo, Celso de Mello).
Nas Ordálias Medievais as pessoas eram torturadas e mortas em processos secretos. Um exemplo era amarrar uma pessoa e prender uma pedra pesada em sua perna para depois atirá-la num rio qualquer. Se a pessoa morresse, era culpada. Se vivesse era inocente (e quem haveria de sobreviver?). Tudo dentro dos ritos previstos no Direito Canônico Inquisitorial.
Todas as execuções e torturas presentes nos regimes nazista, fascista ou estalinista foram "legais" e de acordo com os ritos propugnados por estes regimes.
O que se vê hoje em Pindorama é um Supremo Tribunal Federal omisso e conivente com um golpe de Estado.
As desculpas esfarrapadas repetem o mantra histórico dos canalhas: é tudo legal e tudo está sendo feito de acordo com os ritos!
Ora, em nenhum lugar civilizado do Planeta Terra se derruba um presidente da república com base em atos administrativos (seis decretos) ou com base em um suposto inadimplemento (equalização dos juros do Plano Safra).
O caso dos decretos é inacreditável. Há décadas estes decretos são feitos por todos os presidentes da república e nunca foram considerados irregulares - porque de fato não são. Neste momento se pesca seis decretos, entre milhares deles existentes, para desfechar um golpe contra a mandatária primeira da nação.
O suposto inadimplemento em questão, com o Plano Safra administrado pelo Banco do Brasil, é ainda mais escabroso pois foi o próprio TCU, em decisão de 2014, arrolou 17 pessoas como sendo culpadas pelas tais de "pedaladas". Entre as 17 pessoas não está e nunca esteve a presidenta Dilma pois ela não tem ato de ofício nenhum a respeito deste tema.
E o STF a tudo assiste, se preocupando única e exclusivamente com o "rito" do processo...
O Supremo Tribunal Federal tem a obrigação constitucional de analisar o mérito do processo de impedimento. Não pode essa Corte fazer cara de paisagem ou replicar o insulto de Pôncio Pilatos.
Não pode o mais alto tribunal deste país permitir um estupro constitucional, um autêntico atentado que se está fazendo contra a democracia e a soberania do voto popular.
O TCU sempre considerou lícitos os decretos presidenciais que por ora servem de muleta para o golpe de estado. Tanto isto é verdade que esse entendimento, vigente desde sempre, foi alterado apenas em 07 de outubro de 2015 (os seis decretos aludidos ocorreram antes dessa modificação de entendimento, entre julho e agosto de 2015).
No caso da "pedalada" do Plano Safra, Dilma não praticou nenhum ato de ofício e nem teria como fazê-lo!
O processo de impedimento é político-criminal. Não é uma sindicância administrativa.
Não se pode condenar alguém com base na inexistência de crime ou na existência de um suposto crime que quando foi feito não era considerado crime algum.
A Carta de 88 fala em atos presidenciais como motivação lícita para um processo de impedimento. Como se vai condenar alguém, no caso de Dilma e da questão da "pedalada", se nessa questão não há ato de ofício nenhum por ela praticado?
É inimaginável que o Supremo Tribunal Federal compactue com essa que já é a maior farsa, a maior fraude da história do Brasil.
É inimaginável que lavem as mãos citando o "rito" da 'execução' ao invés de analisar se existe ou não um crime merecedor de tal punição.
E mais ainda: mesmo que os atos administrativos analisados constituíssem algum tipo de infração, jamais se poderia conceber que os mesmos dessem causa a uma pena de máxima grandeza.
É proporcional punir uma infração de trânsito com a prisão perpétua? É proporcional punir um furto famélico com a pena de morte? É proporcional destruir mais de 54 milhões de votos com base em seis decretos e em um suposto inadimplemento com a equalização de juros do Plano Safra? Pois é justamente disso que se trata, da proporcionalidade da sanção em virtude do ato em tese praticado.
O STF não tem como fugir da análise do mérito desse rumoroso processo. A infâmia dessa fuga, se ocorrer, constituirá um atentatório crime contra a Constituição.
Não pode a Suprema Corte fazer de conta que não está vendo a deposição de uma presidenta, com base em atos administrativos, sem nada dizer a respeito de tamanho dano e de tamanha e irreparável ignomínia.
A presidência e vários juristas alegam a inexistência de crime e a existência de uma deposição em estilo parlamentarista, numa espécie de "voto de desconfiança".
O Brasil, salvo ledo engano, continua sendo um país eminentemente presidencialista. Se crime não há, jamais se pode cogitar da destituição do voto popular representado pela figura do presidente da república.
Quem deveria analisar o mérito disso, para dirimir as dúvidas, se não o próprio Supremo Tribunal Federal?
Senhoras e senhores ministros, não sejam cúmplices deste evidente golpe de Estado. Não se acanalhem.
terça-feira, 26 de abril de 2016
Resistência democrática em Paris
MD18 prepara novo ato contra o golpe em Paris
O Movimento Democrático 18 de Março, formado por brasileiros residentes na França, organizará um novo ato contra o golpe e em defesa da democracia brasileira em Paris, no próximo domingo, 1º de maio. O grupo tem como objetivo informar a comunidade internacional sobre a situação política no Brasil, denunciando a parcialidade da imprensa nacional. Abaixo, as imagens do último ato, no dia 17 de abril, na Place de La Republique, que reuniu mais de 500 pessoas, segundo os organizadores.
sexta-feira, 15 de abril de 2016
CNBB e o GOLPE
A CNBB e a declaração sobre o momento nacional
UI, 14/04/2016 - 18:56
A CNBB e a declaração sobre o momento nacional
54ª Assembleia Geral
O texto foi aprovado pelo bispos reunidos na 54ª Assembleia Geral
A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou, na tarde desta quinta-feira, 14 de abril, Declaração sobre o momento nacional, dentro das atividades da 54ª Assembleia Geral da CNBB, que acontece em Aparecida (SP), de 6 a 15 de abril. Na ocasião, participaram o arcebispo de Brasília (DF) e presidente da CNBB, dom Sergio da Rocha; o arcebispo de Salvador (BA) e vice-presidente, dom Murilo Krieger; o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral, dom Leonardo Steiner.
Frente à crise ética, política, econômica e institucional pela qual passa o país, o episcopado brasileiro conclama "o povo brasileiro a preservar os altos valores da convivência democrática, do respeito ao próximo, da tolerância e do sadio pluralismo, promovendo o debate político com serenidade. Manifestações populares pacíficas contribuem para o fortalecimento da democracia. Os meios de comunicação social têm o importante papel de informar e formar a opinião pública com fidelidade aos fatos e respeito à verdade".
Confira a íntegra do texto:
DECLARAÇÃO DA CNBB SOBRE O MOMENTO NACIONAL
“Quem pratica a verdade aproxima-se da luz” (Jo 3,21).
Nós, bispos católicos do Brasil, reunidos em Aparecida, na 54ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), frente à profunda crise ética, política, econômica e institucional pela qual passa o país, trazemos, em nossas reflexões, orações e preocupações de pastores, todo o povo brasileiro, pois, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (Gaudium et Spes, 1).
Depois de vinte anos de regime de exceção, o Brasil retomou a experiência de um Estado democrático de direito. Os movimentos populares, organizações estudantis, operárias, camponesas, artísticas, religiosas, dentre outras, tiveram participação determinante nessa conquista. Desde então, o país vive um dos mais longos períodos democráticos da sua história republicana, no qual muitos acontecimentos ajudaram no fortalecimento da democracia brasileira. Entre eles, o movimento “Diretas Já!”, a elaboração da Carta Cidadã, a experiência das primeiras eleições diretas e outras mobilizações pacíficas.
Neste momento, mais uma vez, o Brasil se defronta com uma conjuntura desafiadora. Vêm à tona escândalos de corrupção sem precedentes na história do país. É verdade que escândalos dessa natureza não tiveram início agora; entretanto, o que se revela no quadro atual tem conotações próprias e impacto devastador. São cifras que fogem à compreensão da maioria da população. Empresários, políticos, agentes públicos estão envolvidos num esquema que, além de imoral e criminoso, cobra seu preço.
Quem paga pela corrupção? Certamente são os pobres, “os mártires da corrupção” (Papa Francisco). Como pastores, solidarizamo-nos com os sofrimentos do povo. As suspeitas de corrupção devem continuar sendo rigorosamente apuradas. Os acusados sejam julgados pelas instâncias competentes, respeitado o seu direito de defesa; os culpados, punidos e os danos, devidamente reparados, a fim de que sejam garantidas a transparência, a recuperação da credibilidade das instituições e restabelecida a justiça.
A forma como se realizam as campanhas eleitorais favorece um fisiologismo que contribui fortemente para crises como a que o país está enfrentando neste momento.
Uma das manifestações mais evidentes da crise atual é o processo de impeachment da Presidente da República. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil acompanha atentamente esse processo e espera o correto procedimento das instâncias competentes, respeitado o ordenamento jurídico do Estado democrático de direito.
A crise atual evidencia a necessidade de uma autêntica e profunda reforma política, que assegure efetiva participação popular, favoreça a autonomia dos Poderes da República, restaure a credibilidade das instituições, assegure a governabilidade e garanta os direitos sociais.
De acordo com a Constituição Federal, os três Poderes da República cumpram integralmente suas responsabilidades. O bem da nação requer de todos a superação de interesses pessoais, partidários e corporativistas. A polarização de posições ideológicas, em clima fortemente emocional, gera a perda de objetividade e pode levar a divisões e violências que ameaçam a paz social.
Conclamamos o povo brasileiro a preservar os altos valores da convivência democrática, do respeito ao próximo, da tolerância e do sadio pluralismo, promovendo o debate político com serenidade. Manifestações populares pacíficas contribuem para o fortalecimento da democracia. Os meios de comunicação social têm o importante papel de informar e formar a opinião pública com fidelidade aos fatos e respeito à verdade.
Acreditamos no diálogo, na sabedoria do povo brasileiro e no discernimento das lideranças na busca de caminhos que garantam a superação da atual crise e a preservação da paz em nosso país. “Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a se preocupar com a construção de um mundo melhor” (Papa Francisco).
Pedimos a oração de todos pela nossa Pátria. Do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, invocamos a bênção e a proteção de Deus sobre toda a nação brasileira.
Aparecida - SP, 13 de abril de 2016.
Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB
Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB
quarta-feira, 6 de abril de 2016
Integralismo e a direita
O nascedouro da moral de extrema direita no Brasil, por Luiza Villaméa
06/04/2016 - 16:56
ATUALIZADO EM 06/04/2016 - 16:57
Da Revista Brasileiros
Por Luiza Villaméa
Valores da extrema-direita foram disseminados no Brasil pelo integralismo de Plínio Salgado
Garotos de família integralista em Poços de Caldas (MG) em 1940 – Foto: Arquivo Público e Histórico de Rio Claro
É provável que os garotos não tivessem a menor ideia dos valores que simbolizavam ao posar com o uniforme integralista, o braço direito levantado e a palma da mão à mostra, em março de 1940. Seus pais sabiam. E dedicaram a foto tirada na cidade mineira de Poços de Caldas ao chefe inconteste do integralismo, Plínio Salgado, “como prova robusta de respeito, affecto e carinho”.
Inspirado no fascismo italiano e lançado em 1932, o integralismo se espalhou rapidamente pelo Brasil. Figuras de peso, como os juristas Miguel Reale e Goffredo da Silva Teles, logo aderiram ao movimento. O instigante é que o retrato dos “plinianos”, como eram chamados os meninos de famílias integralistas, foi feito quando o movimento se encontrava na ilegalidade e seu líder autoexilado em Portugal.
Pelo menos em público, ninguém mais fazia a saudação integralista Anauê! (Você é meu irmão!), que vinha do tupi. O movimento estava proibido desde 1937, quando o presidente Getulio Vargas decretou o Estado Novo. Plínio soube com antecedência que o período autoritário estava em gestação, articulou para ser um dos sustentáculos do novo regime, mas Getulio não admitia sombras. Extinguiu todas as organizações políticas.
A imagem dos “plinianos”, o flagrante de um encontro integralista postado abaixo e outras 6.760 fotos do acervo do líder integralista se encontram no Arquivo Público e Histórico da cidade paulista de Rio Claro. Foram doados à instituição em 1985, pela viúva de Plínio, Carmela Patti Salgado.
Plínio Salgado (no destaque) participa de encontro de seguidores, em 1935. Foto: Arquivo Público e Histórico de Rio Claro
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