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terça-feira, 8 de julho de 2014

Sobre a derrota

Olá! Espero que blogueiros de plantão não estejam tão tristes e peço a atenção para um artigo que escrevi em 1998 por ocasião da derrota do Brasil para a França no mundial sediado por aquele país. Vi muitas semelhanças entre o que aconteceu naquele ano e a deste ano de 2014. Apesar da distância histórica os nossos problemas estruturais, econômicos, culturais e de civilização continuam os mesmos. Tirem as suas conclusões!

Ao calor da hora é difícil dizer alguma coisa de relevante. Derrota? Quem perdeu o quê? Que batalha seria essa a que fomos convocados?

O mais correto seria mencionar que o povo brasileiro, e aí amplio ao máximo o conceito de "povo", foi novamente convocado a participar com suas emoções de algo que desconhece.

Essa copa (de 1998 e de 2014) veio demonstrar que há mecanismos mais complexos que interagem e influenciam as sociedades modernas, quer em termos de sua mobilização, quer no sentido do seu nacionalismo.

Talvez o exemplo do Irã/EUA, da Croácia e da França demonstrem isso com mais clareza, uma vez que ambos os países se viram envolvidos em situações que extrapolam o conceito de esporte.

Não podemos esquecer de que trata-se de um fenômeno de massas o que acabamos de vivenciar. E o Brasil, especialmente, tem sido constantemente chamado a participar com suas expectativas deste momento e de outros como a morte de Tancredo Neves, o suicídio de Getúlio Vargas e a morte trágica de Senna e dos Mamomas Assassinas.

A socidedade precisa estar alerta para este fato, pois pouco sabemos sobre como os estímulos agem sobre os indivíduos, qual seria o grau de latência deles. Há a teoria psicanalista que poderia ser elucidativa sobre este ponto. Porém, nem mesmo ela seria capaz de dar conta acerca da Longa Duração em que as mentalidades interagem e influenciam as sociedades modernas no âmbito de suas complexidades.

Dizer que temos muito pela frente seria banal e compensador das muitas aflições que vivenciamos nestes dias na qual nossa "sensibilidade nacional" foi exarcebada ao extremo, mas é preciso reiterar: temos muito pela frente; Há uma nação que necessita que os poucos olhos que enxergam à luz do dia sintam-se à vontade de apontar as possibilidades que podemos alcançar. Sem ilusões cabe construir novas relações de ordem econômica que incluam os excluídos; relações afetivas que predigam algo sobre a incomunicabilidade dos corações; relações políticas que estabeleçam novos parâmetros no trato com a sociedade e com o poder público; relações culturais que ampliem a criatividade e o senso crítico dos indivíduos.

Em suma, só existe derrota quando as possibilidades inexistem e a morte sela o pacto definitivo com a vida. Talvez seja essa a lição que aprendemos nestes dias: enquanto houver pulsação tudo será possível.

(Jornal de Notícias, Montes Claros, 14 de julho de 1998, p. 2)

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