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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Ação entre amigos

Quero chamar a atenção de todos para o filme Ação entre amigos. Com estas eleições de 2014 senti que muitas feridas que foram criadas nos anos sessenta vieram à tona. Ação entre amigos é um filme brasileiro de 1998 dirigido por Beto Brant. Nele, 25 anos após o regime militar no Brasil, 4 ex-guerrilheiros se reúnem para justiçar o homem que os torturou na década de 1970. Assistam que vale a pena!


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Violência contra os professores

Temos que melhorar muito no quesito de violência contra os professores. Estamos na berlinda!

Pesquisa põe Brasil em topo de ranking de violência contra professores
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Daniela Fernandes
Da BBC Brasil, em Paris

  • Tânia Rego/Agência Brasil
    Saída escola no Rio de Janeiro
    Saída escola no Rio de Janeiro
Uma pesquisa global feita com mais de 100 mil professores e diretores de escola do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio (alunos de 11 a 16 anos) põe o Brasil no topo de um ranking de violência em escolas.

Na enquete da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana.

Trata-se do índice mais alto entre os 34 países pesquisados - a média entre eles é de 3,4%. Depois do Brasil, vem a Estônia, com 11%, e a Austrália com 9,7%. Na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice é zero.

"A escola hoje está mais aberta à sociedade. Os alunos levam para a aula seus problemas cotidianos", disse à BBC Brasil Dirk Van Damme, chefe da divisão de inovação e medição de progressos em educação da OCDE.

O estudo internacional sobre professores, ensino e aprendizagem (Talis, na sigla em inglês), também revelou que apenas um em cada dez professores (12,6%) no Brasil acredita que a profissão é valorizada pela sociedade; a média global é de 31%.

O Brasil está entre os dez últimos da lista nesse quesito, que mede a percepção que o professor tem da valorização de sua profissão. O lanterna é a Eslováquia, com 3,9%. Em seguida, estão a França e a Suécia, onde só 4,9% dos professores acham que são devidamente apreciados pela sociedade.

Já na Malásia, quase 84% (83,8%) dos professores acham que a profissão é valorizada. Na sequência vêm Cingapura, com 67,6% e a Coréia do Sul, com 66,5%.

A pesquisa ainda indica que, apesar dos problemas, a grande maioria dos professores no mundo se diz satisfeita com o trabalho.

A conclusão da pesquisa é de que os professores gostam de seu trabalho, mas "não se sentem apoiados e reconhecidos pela instituição escolar e se veem desconsiderados pela sociedade em geral", diz a OCDE.

Segundo Van Damme, "a valorização dos professores é um elemento-chave para desenvolver os sistemas educacionais".

Ele aponta melhores salários e meios financeiros para que a escola funcione corretamente, além de oportunidades de desenvolvimento de carreira como fatores que podem levar a uma valorização concreta da categoria.

No Brasil, segundo dados do CDEs (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) da Presidência da República, divulgados em 2012, a remuneração média dos professores é de pouco menos de R$ 1,9 mil por mês.

A média salarial dos professores nos países da OCDE, calculada levando em conta o poder de compra em cada país, é de US$ 30 mil (cerca de R$ 68,2 mil) por ano, o equivalente a R$ 5,7 por mês, o triplo do que é pago no Brasil.

O especialista da OCDE cita a Coreia do Sul e a China como exemplos de países onde o trabalho dos professores é valorizado tanto pela sociedade quanto por políticas governamentais, o que representa, diz ele, um "elemento fundamental na melhoria da performance dos alunos".

"Em países asiáticos, os professores possuem um real autoridade pedagógica. Alunos e pais de estudantes não contestam suas decisões ou sanções", afirma.

A organização ressalta que houve avanços na educação brasileira nos últimos anos. Os investimentos no setor, de 5,9% do PIB no Brasil, estão próximos da média dos países da OCDE (6,1%), que reúne várias economias ricas.

"Entre 2000 e 2011, o nível de investimentos em educação no Brasil, em termos de percentual do PIB, quase dobraram", afirma Van Damme.

Outro indicador considerado importante pela OCDE, o percentual de jovens entre 15 e 19 anos que estudam, é de 77% no Brasil. A média da OCDE é de 84%.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Sobre a derrota

Olá! Espero que blogueiros de plantão não estejam tão tristes e peço a atenção para um artigo que escrevi em 1998 por ocasião da derrota do Brasil para a França no mundial sediado por aquele país. Vi muitas semelhanças entre o que aconteceu naquele ano e a deste ano de 2014. Apesar da distância histórica os nossos problemas estruturais, econômicos, culturais e de civilização continuam os mesmos. Tirem as suas conclusões!

Ao calor da hora é difícil dizer alguma coisa de relevante. Derrota? Quem perdeu o quê? Que batalha seria essa a que fomos convocados?

O mais correto seria mencionar que o povo brasileiro, e aí amplio ao máximo o conceito de "povo", foi novamente convocado a participar com suas emoções de algo que desconhece.

Essa copa (de 1998 e de 2014) veio demonstrar que há mecanismos mais complexos que interagem e influenciam as sociedades modernas, quer em termos de sua mobilização, quer no sentido do seu nacionalismo.

Talvez o exemplo do Irã/EUA, da Croácia e da França demonstrem isso com mais clareza, uma vez que ambos os países se viram envolvidos em situações que extrapolam o conceito de esporte.

Não podemos esquecer de que trata-se de um fenômeno de massas o que acabamos de vivenciar. E o Brasil, especialmente, tem sido constantemente chamado a participar com suas expectativas deste momento e de outros como a morte de Tancredo Neves, o suicídio de Getúlio Vargas e a morte trágica de Senna e dos Mamomas Assassinas.

A socidedade precisa estar alerta para este fato, pois pouco sabemos sobre como os estímulos agem sobre os indivíduos, qual seria o grau de latência deles. Há a teoria psicanalista que poderia ser elucidativa sobre este ponto. Porém, nem mesmo ela seria capaz de dar conta acerca da Longa Duração em que as mentalidades interagem e influenciam as sociedades modernas no âmbito de suas complexidades.

Dizer que temos muito pela frente seria banal e compensador das muitas aflições que vivenciamos nestes dias na qual nossa "sensibilidade nacional" foi exarcebada ao extremo, mas é preciso reiterar: temos muito pela frente; Há uma nação que necessita que os poucos olhos que enxergam à luz do dia sintam-se à vontade de apontar as possibilidades que podemos alcançar. Sem ilusões cabe construir novas relações de ordem econômica que incluam os excluídos; relações afetivas que predigam algo sobre a incomunicabilidade dos corações; relações políticas que estabeleçam novos parâmetros no trato com a sociedade e com o poder público; relações culturais que ampliem a criatividade e o senso crítico dos indivíduos.

Em suma, só existe derrota quando as possibilidades inexistem e a morte sela o pacto definitivo com a vida. Talvez seja essa a lição que aprendemos nestes dias: enquanto houver pulsação tudo será possível.

(Jornal de Notícias, Montes Claros, 14 de julho de 1998, p. 2)

terça-feira, 24 de junho de 2014

Nicolelis e a narrativa daquilo que a copa do mundo poderia ser para o Brasil




Vimos o grande debate em torno do que pode representar a copa do mundo para o Brasil e qual deveria ser a narrativa ou o legado que a copa do mundo representaria para o Brasil e para o mundo, e noto que deixamos passar a oportunidade desta resposta durante a abertura da copa e agora nesta etapa final da fase de grupos.

O chute inicial da partida de futebol realizado por um paraplégico com o auxílio de um exoesqueleto poderia ter sido o legado do Brasil para o mundo e a iniciativa de Miguel Nicolelis passou em branco durante o evento que teve pouca cobertura da mídia brasileira de uma maneira geral.

O neurocientista brasileiro, Miguel Nicolelis, ganhou o prêmio de Personalidade 2011 patrocinado pelo jornal O Globo (ver link). Para quem não conhece este palmeirense de mão cheia, aqui vão algumas dicas. 

Este cientista, atualmente na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, tem sido o responsável, juntamente com sua equipe de colaboradores, por inovar no campo da neurociência ao propor que é possível captar os estímulos de nossos neurônios e traduzi-los em sinais - pelo computador - capazes de movimentar máquinas ou próteses como se elas fossem extensões de nosso corpo. A essa modalidade de interação ele denominou de interface-cérebro-máquina.

Mas, sua iniciativa não se resume a este fato, por si só, impressionante! Suas descobertas no campo da neurociência abriram um amplo leque para o estudo das doenças neuronais como parkinson mediante técnicas não invasivas que poderão, no futuro próximo, revolucionar as terapias neste campo. Além do mais, seu estudo em Duke, demonstra que as disciplinas científicas, antes distantes umas das outras como a ciência da computação, filosofia, biologia, psicologia, engenharia, robótica, matemática, tenderão a se convergir, pois a interface-cérebro-máquina caminha e demanda pelo surgimento de uma nova neurociência no mundo. 

Tudo isso pode parecer um pouco distante ainda do (a) amigo (a) leitor (a), mas, tudo indica que já estamos imersos nesta nova era da tecnologia e ciência que cada dia faz parte da nossas vidas seja mediante novas técnicas medicinais ou pelo surgimento de novos aparelhos tecnólogicos com múltiplas funções. Nesse sentido, o prêmio conferido ao brasileiro pelo O Globo é o reconhecimento da pesquisa científica e do labor, que acompanha a todos aqueles que pretendam inovar e direta e indiretamente mudam a vida das pessoas, para o melhor, é o que pretendemos. 

Se você se sentiu tocado por essas dicas e por este apelo, recomendo o livro do Miguel Nicolelis "Além do nosso eu - a nova neurociência que une cérebro e máquinas - e como ela pode mudar nossas vidas".

domingo, 4 de maio de 2014

Propaganda do novo AXE 2014




As propagandas de TV podem vir a ser um forte aliado do educador no ofício de ensinar e para as demais pessoas que se interessam em desvendar aspectos da cultura contemporânea. As peças publicitárias narram uma história e, aproveitam-se do conteúdo comum dos espectadores e, dessa forma, veiculam uma mensagem que desconsidera o indivíduo e valoriza as coisas, as conquistas materiais e a sociedade de consumo capitalista.
Se os pequenos filmes são efêmeros, esse fato não deve servir de pretexto para menosprezá-los. Ao contrário, o educador tem ao seu alcance um recurso: a análise das propagandas, pois, elas movimentam necessidades e gostos e necessitam ser decifradas e a sala de aula constitui o espaço adequado para tal fim bem como os blogs e demais instrumentos de interação como as redes sociais.
A propaganda que propomos falar muito rapidamente diz respeito ao novo AXE Peace - Faça amor e não guerra. A pequena peça trata de conflitos contemporâneos: Guerra do Vietnã; Guerra do Golfo Pérsico com Saddam Hussein e outros ditadores; Coreia do Norte e possivelmente Segunda Guerra Mundial ou a Primavera de Praga.
A pequena peça aproveita-se de um determinado senso comum em torno desses conflitos e vende a ideia da paz em detrimento da guerra, mediante o amor, como se os conflitos dependessem de uma causa pessoal e não dos interesses econômicos, e geopolíticos dos países e dos grupos. Vale a pena dar uma conferida na propaganda e também tirar suas conclusões.


 

 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Gabriel García Marquez e o conto A Luz é Como a Água

Estou rendendo minhas homenagens ao escritor Gabriel García Marquez e tomo a liberdade de ilustrar meus sentimentos com um conto seu de que gosto muito: A Luz é Como a Água. E espero que todos gostem...



No Natal os meninos tornaram a pedir um barco a remos.
- De acordo - disse o pai -,vamos comprá-lo quando voltarmos a Cartagena.
Totó, de nove anos, e Joel, de sete, estavam mais decididos do que seus pais achavam.
-Não - disseram em coro. - Precisamos de­le agora e aqui.
- Para começar - disse a mãe -, aqui não há outras águas navegáveis além da que sai do chuveiro.
Tanto ela como o marido tinham razão. Na casa de Cartagena de lndias havia um pátio com um atracadouro sobre a baía e um refúgio para dois iates grandes. Em Madri, porém, viviam aper­tados no quinto andar do número 47 do Paseo de la Castellana. Mas no final nem ele nem ela pu­deram dizer não, porque haviam prometido aos dois um barco a remos com sextante e bússola se ganhassem os louros do terceiro ano primário, e tinham ganhado. Assim sendo, o pai comprou tudo sem dizer nada à esposa, que era a mais renitente em pagar dívidas de jogo. Era um belo barco de alu­mínio com um fio dourado na linha de flutuação.
- O barco está na garagem - revelou o pai na hora do almoço. - O problema é que não tem jeito de trazê-lo pelo elevador ou pela escada, e na garagem não tem mais lugar.
No entanto, na tarde do sábado seguinte, os me­ninos convidaram seus colegas para carregar o bar­co pelas escadas, e conseguiram levá-lo até o quarto de empregada.
- Parabéns - disse o pai. - E agora?
- Agora, nada - disseram os meninos. - A única coisa que a gente queria era ter o barco no quarto, e pronto.
Na noite de quarta-feira, como em todas as quartas-feiras, os pais foram ao cinema. Os meninos, donos e senhores da casa, fecharam portas e janelas, e quebraram a lâmpada acesa de um lustre da sala. Um jorro de luz dourada e fresca feito água começou a sair da lâmpada quebrada, e deixaram correr até que o nível chegou a quatro palmos. En­tão desligaram a corrente, tiraram o barco, e nave­garam com prazer entre as ilhas da casa.
Esta aventura fabulosa foi o resultado de uma leviandade minha quando participava de um semi­nário sobre a poesia dos utensílios domésticos. To­tó me perguntou como era que a luz acendia só com a gente apertando um botão, e não tive coragem para pensar no assunto duas vezes.
- A luz é como a água - respondi. - A gen­te abre a torneira e sai.
E assim continuaram navegando nas noites de quarta-feira, aprendendo a mexer com o sextante e a bússola, até que os pais voltavam do cinema e os encontravam dormindo como anjos em terra firme. Meses depois, ansiosos por ir mais longe, pediram um equipamento de pesca submarina. Com tudo: máscaras, pés-de-pato, tanques e carabinas de ar comprimido.
- Já é ruim ter no quarto de empregada um barco a remos que não serve para nada - disse o pai.   - Mas pior ainda é querer ter além disso equi­pamento de mergulho.
- E se ganharmos a gardênia de ouro do primeiro semestre? - perguntou Joel.
- Não - disse a mãe, assustada. - Chega.
O pai reprovou sua intransigência.
- É que estes meninos não ganham nem um prego por cumprir seu dever - disse ela -, mas por um capricho são capazes de ganhar até a cadeira do professor.
No fim, os pais não disseram que sim ou que não. Mas Totó e Joel, que tinham sido os últimos nos dois anos anteriores, ganharam em julho as duas gardênias de ouro e o reconhecimento público do di­retor. Naquela mesma tarde, sem que tivessem tor­nado a pedir, encontraram no quarto os equipamen­tos em seu invólucro original. De maneira que, na quarta-feira seguinte, enquanto os país viam O Último Tango em Paris, encheram o apartamento até a altura de duas braças, mergulharam como tubarões mansos por baixo dos móveis e das camas, e resgataram do fundo da luz as coisas que durante anos tinham-se perdido na escuridão.
Na premiação final os irmãos foram aclamados como exemplo para a escola e ganharam diplomas de excelência. Desta vez não tiveram que pedir na­da, porque os pais perguntaram o que queriam. E eles foram tão razoáveis que só quiseram uma fes­ta em casa para os companheiros de classe.
O pai, a sós com a mulher, estava radiante.
- É uma prova de maturidade - disse.
- Deus te ouça - respondeu a mãe.
Na quarta-feira seguinte, enquanto os pais viam A Batalha de Argel, as pessoas que passaram pela Castellana viram uma cascata de luz que caía de um velho edifício escondido entre as árvores. Saía pelas varandas, derramava-se em torrentes pela fachada. e formou um leito pela grande avenida numa cor­renteza dourada que iluminou a cidade até o Gua­darrama.
Chamados com urgência, os bombeiros força­ram a porta do quinto andar, e encontraram a casa coberta de luz até o teto. O sofá e as poltronas for­radas de pele de leopardo flutuavam na sala a dife­rentes alturas, entre as garrafas do bar e o piano de cauda com seu xale de Manilha que agitava-se com movimentos de asa a meia água como uma arraia de ouro. Os utensílios domésticos, na plenitude de sua poesia, voavam com suas próprias asas pelo céu da cozinha. Os instrumentos da banda de guerra, que os meninos usavam para dançar, flutuavam a esmo entre os peixes coloridos liberados do aquário da mãe, que eram os únicos que flutuavam vivos e feli­zes no vasto lago iluminado. No banheiro flutuavam as escovas de dentes de todos, os preservativos do pai, os potes de cremes e a dentadura de reserva da mãe, e o televisor da alcova principal flutuava de la­do, ainda ligado no último episódio do filme da meia-noite proibido para menores.
No final do corredor, flutuando entre duas águas, Totó estava sentado na popa do bote, agar­rado aos remos e com a máscara no rosto, buscan­do o farol do porto até o momento em que houve ar nos tanques de oxigênio, e Joel flutuava na proa buscando ainda a estrela polar com o sextante, e flu­tuavam pela casa inteira seus 37 companheiros de classe, eternizados no instante de fazer xixi no vaso de gerânios, de cantar o hino da escola com a letra mudada por versos de deboche contra o diretor, de beber às escondidas um copo de brandy da garrafa do pai. Pois haviam aberto tantas luzes ao mesmo tempo que a casa tinha transbordado, e o quarto ano elementar inteiro da escota de São João Hospitalário tinha se afogado no quinto andar do número 47 do Paseo de la Castellana. Em Madri de Espanha, uma cidade remota de verões ardentes e ventos gelados, sem mar nem rio, e cujos aborígines de terra firme nunca foram mestres na ciência de navegar na luz.


Dezembro de 1978 (Gabriel García Marquez)