Os amantes de
aventuras, e bem dito que estamos nos referindo às aventuras literárias, não
podem deixar de ler dois livros que falam delas e trazem ensinamentos profundos
sobre a existência e o modo de se relacionar com as coisas e as palavras.
O primeiro desses
livros e, talvez, o precursor da aventura moderna, notadamente aquela que
possibilitou que o homem chegasse até a lua, seria Dom Quixote.
Para quem não sabe de Dom Quixote, personagem de Miguel de
Cervantes: depois de muito ler livros de cavalaria da época (século XVI),
resolveu que se lançaria à cata de aventuras, pois aquele mundo dos cavaleiros
era mais interessante do que o seu, que se reduzia a uma nova vida de fidalgo
(nobre em decadência) e ao surgimento de uma nova sociedade baseada no lucro e
na competição, incapaz de abrir-se ao espaço do sonho, do encantamento, que
para Dom Quixote constituíam o verdadeiro motor da vida.
O outro livro de
aventuras seria As Primeiras Viagens
de Ernesto Che Guevara, obra selecionada para o Programa Nacional SALAS DE
LEITURA/BIBLIOTECAS ESCOLARES do MEC/FAE e distribuída para algumas bibliotecas
e escolas públicas ao longo do ano de 1997.
Este livro, do médico
argentino Che Guevara, foi escrito nove anos antes de Che participar da
Revolução Cubana de 1959. É um livro que narra a sua experiência, juntamente a
de seu amigo e a sua motocicleta (apelidada de “Poderosa”), pela América do Sul,
visitando países como Chile, Peru, Colômbia, Venezuela e Argentina, origem e
chegada desta aventura juvenil que mudará a vida dos dois protagonistas e dos
leitores apaixonados.
Só para se ter uma
ideia da dimensão do livro. Che e seu amigo trazem consigo para esta viagem:
documentos, algumas roupas, uns trocados no bolso e uma imensa vontade de
conhecer a América Latina. Por isso, convivem com o desconhecido; as altitudes
de Machu Picchu (Peru); a triste condição de vida dos trabalhadores das minas
de enxofre e cobre (Chile); a nem sempre acolhedora paisagem latina; enfim,
esse livro faz uma reflexão sobre a instabilidade política da América do Sul, traz
ainda detalhes sobre História, Geografia, Antropologia e revela também, o
descaso, que sempre acompanhou a América em relação à medicina preventiva e, consequentemente,
a saúde pública.
De duas uma, se Dom Quixote não teve nenhum peso nessa
aventura de Che e o seu amigo pela América do Sul, uma coisa é certa: o seu
amigo está para o escudeiro Sancho Pança, que acompanhava Dom Quixote em suas
saídas assim como “Roncinante” (cavalo de Dom Quixote) está para a “Poderosa”
que acompanhava Che pelas estradas e montanhas da América do Sul. Boas leituras
pra todos!
Fonte: CARVALHO,
Jailson Dias. JORNALOY. Montes
Claros, n. 3, 1º semestre de 1998, p. 8.
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